17/08/2019 até 1/11/2019
VERITAS! - SÉRGIO KISPERGER CANFIELD
O ateliê do artista é seu refúgio. Casulo sagrado de acolhimento e ampla arena de combate. Inicio sob esse particular viés o depoimento que teço agora sobre o artista Sérgio Canfield e suas obras.
O conheci assim, irrequieto e silencioso, em meio a uma profusão de gigantescas caras, rostos desossados e macilentos, expressões que fingiam superar a dor, o sofrimento e o desespero endêmicos. Havia ainda corpos desnudos com sua anatomia desestruturada, nas imagens em preto e branco, recostados no chão e nas paredes de seu ateliê.
“A arte é um ser instável, e minhas
figuras refletem o que vejo todos os dias. Pessoas me olhando, pedindo ajuda”,
brada o artista diante de sua própria trajetória ao questionar o mundo que o
cerca.
Fomos buscar – e encontramos aos
borbotões - finos liames de cor, de luz, nas gavetas, nas estantes, nas
mapotecas repletas de papeis desenhados e manuscritos, de fotografias colorizadas, de colagens com
sobreposições de imagens, ferramentas inusitadas e minúsculos objetos
reinventados. Máquinas de escrever liliputianas, livros encapsulados,
mobiliário anatomicamente inviável e traquitanas mirabolantes, vão surgindo
seus misteriosos ready-mades dessa
espécie de Gabinete de Curiosidades do ilusionista Sérgio Canfield.
Ele não para aí. Nos conduz à uma imaginária floresta,
densa, metálica e cinética construída com objetos cirúrgicos, nem sinistra nem
fantasmagórica, antes alegóricas instalações suspensas no teto de seu refúgio.
Nada que lembre o asséptico consultório de médico cirurgião. Eis o contraponto
desse artista plural. E o desafio da curadoria em tentar transferir um pouco desse cenário à esta
exposição, provocativamente intitulada pelo autor de Veritas !
O artista se diz não engajado a
movimentos políticos nem filosóficos, mas a arte de Sérgio Canfield é o retrato
– verdadeiro ou imaginário? - de um país cheio de evocações e contradições
comportamentais.
Edson Busch Machado - Curador