26/11/2016 até 17/02/2017
JUAREZ E OS AMIGOS DE CURITIBA
"MEUS PRIMEIROS AMIGOS ARTISTAS PARA SEMPRE"
...Diz a lenda que a vida imita a arte. Penso, que
a arte já é a própria vida. Não há vida sem arte e ela se repete a cada ciclo
de nossa existência. Como disse o poeta: “O artista não criou o mundo e nem as
estrelas, mas as pintou”.
Lá longe no passado,
pelos anos de 1958 ou 59 em Joinville, ao lado do meu pai, fomos ver uma
exposição de quadros de artistas do Paraná. Num belo casarão, que ainda existe,
na Rua do Príncipe esquina com a Rua Luiz Niemeyer. Curiosos e apressados como
crianças com largos passos corremos para ver os quadros a óleo de grandes
pintores. Paredes brancas repletas de coloridas e grandes obras.
Quanta emoção, pois
coisa rara nas paredes de minha cidade, na época em todas as casas havia apenas
dois quadros e sempre os mesmos. Uma cópia da “Santa Ceia” ou a “Última Ceia”
de Leonardo da Vinci, na sala de jantar. O segundo, no quarto, na cabeceira da
cama, “Jesus no Monte das Oliveiras”, que foi pintado por vários pintores
italianos, em diversas versões. Naturalmente nenhum dos quadros era original e
sim estampas baratas com belas molduras.
Já na casa dos meus
pais as paredes eram repletas de verdadeiros quadros pintados pela minha mãe.
Entalhes de madeira esculpida pelo meu pai. Coleção de relógios de parede,
carrilhões, armas antigas, realejos. Pratos bem pintados, leques e centenas de
fotos registradas pelo meu pai eternizando em imagens todos os amigos e
parentes.
Nasci e vivi nesse cenário de tantas histórias, beleza e curiosidades.
Na exposição dos paranaenses, tive a oportunidade de ver obras novas. Pois já fazia parte dos meus desejos e planos, assim terminado o período de estudos no Colégio Bom Jesus em Joinville, partir para Curitiba em busca do meu sonho: entrar na Escola de Música e Belas Artes do Paraná.
Conhecer artistas,
visitar museus, dominar as tintas, aprimorar meu desenho e me tornar um artista
e para sempre em qualquer parte do mundo.
Depois de ter visto a
exposição dos artistas curitibanos, fiquei encantado e dominado pelos novos
caminhos das novas imagens, arrojadas, criações ricas com sabor, de outros
estilos, técnicas modernas. Maneiras diferentes de registrar a inspiração, o
domínio das cores e composições. A descoberta de um novo mundo. Surpreso, tinha
visto um ousado quadro abstrato em cores fortes de azul, vermelho e laranja com
o título de “O Ocaso” do pintor Nilo Previdi, mais tarde tornando-nos grandes
amigos. Comentei com meu pai: “O artista se enganou com o título da obra,
escreveu “Ocaso”, tendo que ser “Acaso”.
“-Não meu filho!!! Disse ele com um sorriso maroto, “Ocaso” é o
significado do pôr do sol no horizonte, daí estas cores do entardecer”. Começa
aí, para mim, a importância de uma
“costura” de significados reais, dentro de um espaço de fantasias.
Havia um outro quadro
que chamou a atenção e as emoções do menino da pequena cidade com limitada
cultura artística.
A obra em grandes
medidas intitulava-se “O Elevador”. Em Joinville à época não existia elevador e
eu nunca tinha visto um. O quadro era uma imagem de um plano original, o
elevador visto do alto do próprio teto (muito mais tarde aprendi o nome “vista
de mergulho”) com as três paredes e a porta pantográfica, e no interior, uma
figura solitária encostada na parede numa viagem de subir e descer os andares
de um alto edifício, que também nunca tinha visto. (em Joinville à época também
não existiam prédios acima de três andares). O autor da obra, João Osorio Bueno Brzezinski. Tornamo-nos amigos para sempre, assim como: Cleto de Assis, Domício Pedroso, Fernando Calderari, Fernando Velloso, Guido Viaro, Helena Wong, Jair Mendes, João Osório Brzezinski, Leonor Botteri, Luiz Carlos Andrade Lima, Mario Rubinski, Theodoro de Bona e Waldemar Curt Freyesleben.
...E tudo começou na
exposição destes grandes artistas na esquina de uma rua de minha cidade, que
jamais esquecerei. Tempos depois fui viver na companhia deles em Curitiba, onde
começou e solidificou a minha vida de artista. Hoje eles voltam para Joinville
e juntos fazemos uma exposição, para mostrar e provocar novos jovens artistas.
Com eles conheci a pintura e como toda a arte é uma confissão de que uma só
vida não basta, pois, a arte você vê com os olhos, mas é a alma que enxerga.
– Obrigado meus amigos
pintores –
Juarez Machado, 2016